Conte-nos um pouco do seu percurso de vida.
Abri os olhos para o mundo no dia 20 de julho de 1983, em Santo Tirso. Mundo que passei a ver de uma outra forma quando um acidente de viação, aos dois anos, me colocou numa cadeira de rodas. Após anos de reabilitação, percebi que nada mais havia a fazer do que iniciar a maior prova de resistência que existe: Viver! E foi uma enorme força de viver, suportada sempre nos pilares sólidos da família, que me ajudou a desenvolver, desde cedo, a paixão pelo desporto para pessoas com deficiência, num tempo em que este era fortemente condicionado face aos parcos recursos existentes. Sou uma pessoa simples, humilde, resistente, persistente, teimoso, reservado, um pouco tímido e com muitos outros defeitos e qualidades que julgo, de uma maneira ou outra, serem comuns a todos nós. As graves lesões que sofri fizeram-me entender o quão ténue é a barreira da vida. Hoje, tento aproveitar ao máximo cada dia, cada segundo, cada momento.
Quando e como
acontece o desporto de alta competição, especialmente o atletismo?
Em 2001, em Lisboa, aquando de um estágio, onde conheci o Heinz Frei, considerado como o melhor atleta Paralímpico de sempre. O desporto, desde então, é para mim uma lufada de ar fresco. Para lá de fazer bem ao corpo, ajuda-nos a esquecer, por algum tempo, tudo o que nos rodeia. Ao longo dos anos, o desporto foi a forma de dizer ao mundo “Ouçam, estou vivo”! Mesmo não sendo escutado pela sociedade a maior parte das vezes, soube sempre “tolerar” essa ignorância, facto que me ajudou a crescer por dentro e por fora.
Quais as principais
dificuldades que encontrou?
As materiais. A prática desportiva adaptada para a área motora é extremamente dispendiosa, muito em função do custo das cadeiras de rodas desportivas. Para que se tenha uma ideia, uma cadeira de atletismo para competição custa no mínimo 6.000€ e pode atingir preços acima de 20.000€.
O momento que mais o
marcou nesta longa caminhada desportiva e porquê?
O mesmo destino que me colocou numa cadeira de rodas cruzou-me com o “Melhor Atleta Paraolímpico” de todos os tempos, Heinz Frei, que, num gesto fraternal, me ofereceu uma das suas cadeiras de competição, com a qual alcançara em 1999 o recorde mundial na Maratona. Recordo a primeira vez que representei Portugal. Foi no Campeonato da Europa de Atletismo de 2003, na Holanda. Tinha 19 anos. Era um desconhecido aos olhos de todos, mas trouxe a primeira medalha (prata) para o atletismo português, numa prova em cadeira de rodas. Emocionado, assim que saí da pista de competição abracei Heinz Frei e dediquei-lhe a medalha, pois sem a sua ajuda tal feito nunca teria acontecido.
Qual é o segredo para a força e a determinação que o caracterizam?
A fé e a família são, sem sombra de dúvida, os meus principais pilares. Depois todos nós temos capacidades. Eu tenho comigo uma capacidade natural de me renovar a cada desafio e isso, sem dúvida, é, no meu ponto de vista, uma enorme mais-valia.
Expetativas em
relação à presença nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio?