Apoios

02 Agosto 2021

Entrevista a Samim Essufo

A benfeitora distribui refeições solidárias com o apoio da Água Monchique

Samim Essufo arregaçou as mangas e numa altura em que as condições económicas de muitas famílias portuguesas se agravaram, decidiu fazer aquilo, que na sua opinião, melhor sabe fazer: cozinhar e oferecer refeições a sem abrigo e famílias carenciadas. A Água Monchique é um dos parceiros deste projeto que sobrevive graças ao apoio de algumas empresas, mas sobretudo da boa vontade e do empenho de voluntários e da sua mentora, Samim Essufo.


Como é que nasceu o projeto Refeições Solidárias?


Quando a pandemia assolou o meu país e o estado de emergência foi decretado, muitas famílias viram os seus rendimentos serem abruptamente cortados, com a paragem forçada das suas atividades. 

Os pedidos de ajuda para coisas básicas, como a alimentação e a higiene, começaram a surgir como cogumelos. Foi então, que decidi arregaçar as mangas e fazer algo em prol da sociedade em que estou inserida. Resolvi fazer o que melhor sei: cozinhar! Comecei por confecionar 9 refeições semanalmente. Hoje, confeciono cerca de 70 refeições por semana. "Amadrinhei" de alma e coração várias famílias em dificuldades. Entre elas, sem abrigos, famílias sinalizadas por mim e famílias sinalizadas pela assistente social a exercer funções no Centro Social e Paroquial de Corroios. Nada disto teria tomado a proporção que tomou sem a generosidade e o apoio dos que me rodeiam.


Quantas famílias apoia atualmente? O que faz mais falta a essas famílias?


Neste momento, apoio 15 famílias e o que mais faz falta a estas famílias é um prato de comida caseira confecionada com os melhores ingredientes, sobretudo, amor. Este tipo de comida (desde a carne ao peixe) não encontram em nenhuma outra instituição, dizem eles. Sempre que possível, distribuo cabazes com bens de higiene e de limpeza e com lanches direcionados para as crianças. Estes últimos são, na minha opinião, uma grande lacuna que existe na distribuição de cabazes a famílias carenciadas por parte das instituições.


No total, quantas refeições já confecionou desde o início do projeto?


Pelos meus cálculos, terão sido confecionadas cerca de 2600 refeições até à data.


Como é que chega a estas famílias?


Normalmente, são as famílias em dificuldades que me procuram. Outras, mais envergonhadas, pedem ajuda através de terceiros que me conhecem e que conhecem o projeto. Mas é sempre feita uma entrevista prévia, a fim de averiguar a veracidade da situação das famílias para que possam beneficiar do projeto.


Tem apoios de empresas/ associações / entidades? Como é que financia o projeto “Refeições Solidárias”?


Visto que o meu projeto não é uma associação, não conto com apoios oficiais. Apenas conto, pontualmente, com o apoio de algumas empresas como a Sociedade da Água de Monchique (com a doação de águas), Pudins Mandarim e Paladim. Depois, também conto semanalmente com o apoio de duas empresas pertencentes a pessoas amigas, que doam alguns bens alimentares para as refeições. De resto, o projeto tem sobrevivido com o apoio de voluntários anónimos.

Como é que a Água Monchique se associa a esta iniciativa?


Quando acolhi uma família no projeto onde havia duas crianças doentes oncológicas, uma delas, inclusivamente, transplantada. Tendo tido conhecimento, na altura, das suas necessidades especiais, nomeadamente em relação à água, resolvi contactar a Água Monchique para poder facultar não só a essa família, mas a todas as famílias do projeto as melhores águas no mercado. Neste momento, existe mais uma família com uma doente oncológica.


Conta com o apoio de voluntários?


A confeção é única e exclusivamente da minha responsabilidade. Conto com a ajuda da minha filha, Shabina, para o registo fotográfico e em vídeo e também no embalamento das refeições. Conto, ainda, com a ajuda de quatro voluntários na distribuição das refeições às famílias que residem mais longe.


Como é que este projeto tem sido acolhido pela comunidade?


Confesso que, no início, tive receio de o tornar público, pois não sabia como é que essa ideia seria recebida pelas pessoas que me rodeavam. Mas, à medida que o número de famílias foi crescendo, senti a necessidade de partilhar e apelar à solidariedade dos meus amigos, clientes e conhecidos. Hoje em dia, o projeto já conta com mais de um ano, graças à solidariedade e boa vontade dos “anjos sem asas” (os voluntários anónimos que altruistamente contribuem).


Pondera manter o projeto com o “final” da pandemia?


Sim, sem dúvida. Antes da pandemia muitas das famílias que ajudo, nomeadamente sem-abrigos, já se encontravam em situação de fragilidade socioeconómica. Com o surgir da pandemia, a situação destas famílias só piorou. E se, felizmente, a maior parte da população está a retomar as suas vidas e suas rotinas gradualmente, estas famílias em questão ainda não.


Perfil Samim Essufo:


Nome: Samim Essufo
Idade: 42
Profissão: Cake Designer
Residência: Almada


Sobre mim: “Gosto de viajar, mas adoro regressar ao meu cantinho. Gosto de sorrisos fáceis, mas adoro a descrição. Gosto de pessoas simples, mas adoro o requinte. Para mim, o camarão frito come-se com as mãos, no entanto, uma simples laranja merece ser servida num prato de sobremesa, já cortada em forma de flor, salpicada com um pouquinho de sal e cominhos, para ser degustada com talheres de sobremesa”.